FOTO: MANIFESTAÇÃO CONTRA AS QUEIMADAS EM MANAUS. AUTOR: CUCUNAÇA, 2015.
Neste dia 24 de outubro, Manaus completa 346 anos de existência. Minha cidade de nascimento e de coração. Em virtude deste momento, importo em destacar a sua primazia na Amazônia brasileira e a simplicidade de seu povo muitas vezes confundida com inocência.
No mês de outubro, foi dedicado a atenção a saúde da mulher, ganhando até o slogan de "Outubro Rosa". Mas, por ironia dos acontecimentos, a cidade de Manaus vem sofrendo muito com os rigores climáticos decorrentes do fenômeno El Niño, em que pese, temperaturas elevadas e baixa umidade do ar. Somam-se a isto, mais as queimadas criminosas na Amazônia, especialmente no sul do Amazonas e na região metropolitana de Manaus o que mergulha até o momento em que escrevo estas linhas, a cidade numa nuvem de fumaça que amplia-se com a chegada da noite.
As Organizações não-governamentais (ONG's) que vivem a espalhar aos quatro ventos que "Amam a Amazônia" ficam caladas, e veja, não são quaisquer organizações de "fundo de quintal", possuem ligações internacionais e suas sedes dão inveja a muitas pequenas empresas.
Os meios de comunicação de massa, rádio e televisão limitam-se a registrar o fato da fumaça, sem contudo, aprofundar o tema preferindo culpabilizar os pequenos produtores rurais, mesmo conscientes que em nenhum momento da história recente da cidade, fenômenos como este, se manifestaram tão prolongadamente sobre os ares de Manaus.
Os órgãos, institutos científicos e universidades (alguns deles se orgulham de ter meio centenário de Amazônia!), em silêncio, quando se pronunciam tratam apenas de aspectos periféricos a cortina de fumaça, falam das estatísticas e probabilidades e alguns até em adivinhações para projetar quando a fumaça irá se dissipar e até confundem a direção dos ventos, quando não apelam ao Divino para que nos envie chuvas.
A classe média, que outrora, replicou via internet, a tragédia dos periquitos da Avenida Efigênio Salles, não polemiza em nada, não exerce nem o direito de consumidora da cidade, sobre a nossa perda de qualidade do ar. Uma classe média, que como diz, um colega meu de trabalho, quer saber mesmo é "Se o dinheiro já está na conta".
Neste cenário, Manaus fará 346 anos. Não bastasse, a vida de luta na cidade e pela cidade, os poetas do subterrâneo, se escondem da intoxicação da superfície de Manaus. As mucuras resistem por aparelhos, mas os ratos da cidade, continuarão a fazer poesia proscrita, nas esquinas enfumaçadas da Rua Leonardo Malcher com a Tapajós - que quiseram rebatizar de rua Portugal e a memória dos mais antigos não permitiu. Manaus, uma cidade que suas elites não a amam, apenas toleram porquê nesse espaço quente e úmido, ainda há caboclos a se explorar e caboclas lindas para se degustar (perdoem-me a deselegância!).
Espero sinceramente, deixar em Manaus minhas palavras grafadas em cada passo que dou na cidade "Mãe dos Deuses" tatuadas em cada tijolo e árvore, para que não virem fumaça e componham esta grande nuvem do esquecimento que insiste em pairar sobre a cabeça dos habitantes da minha amada Manaus.
Parabéns a todos os Ratos e Mucuras que insistem em fazer poesia no subterrâneo da cidade de Manaus!