domingo, 22 de julho de 2012

CHEGADA EM PARINTINS, Diário de Bordo 3

Foto: Porto de Parintins/AM. Autor: Geóg. M. Bechman, 2012

A Chegada a Parintins foi muito tranquila, durante a madrugada apenas a lua e o frio das águas do Rio Amazonas nos faziam a companhia certa e necessária para aportar na ilha Tupinambarana. Na madrugada, percebi porque este lugar é mágico. A Lua iluminava a noite em total esplendor, refletindo nas águas á medida que avistávamos a cidade iluminada em alaranjado das luzes de mercúrio dos postes de iluminação pública do porto de Parintins. Vimos com clareza a influência destes fenômenos ou melhor caprichos da natureza e o quanto é fácil transformar estas visões em poesias singulares e eternas. Guardarei para sempre, a imagem da lua refletida nas águas do Rio Amazonas, o que me voltou à memória das histórias dos meus pais e das lendas como a da Vitória-Régia.
Foto: Igreja do Sagrado Coração de Jesus. Autor: Geóg. M. Bechman, 2012.

No desembarque, em plena madrugada, um movimento frenético de pessoas e bagagens que chegavam ás centenas em embarcações pequenas, medianas e grandes. Desembarcamos ás 2h da madrugada do dia 30 de julho e usamos um táxi-frete, para chegarmos á casa em que ficaríamos hospedados. No passeio solitário em direção ao bairro da Francesa - um reduto fortíssimo do Boi Caprichoso, observei o silêncio sepulcral da cidade, impecavelmente limpa, sem pessoas e sujeira nas ruas estreitas e lineares. A arquitetura das residências, em formas singulares, pintadas e alinhadas naquele bairro chamavam a atenção dos andarilhos mais experientes. Chegamos á casa de nossos parentes para a acomodação durante os dias do festival, ás margens da Lagoa da Francesa.

Foto: Café da manhã em Parintins. Autor: Geóg. M. Bechman, 2012.

 
Ao acordarmos, eu fui para a rua observar a orquestra de pássaros com sons, os mais diferentes e controversos já ouvidos por minha audição. Um espetáculo da natureza, eram anús, garças, papagaios, periquitos, e tantos outros que nos saúdavam com a alvorada do dia sobre a presença dos trabalhadores do Porto da Francesa que cedo, já tratavam de suas embarcações por mais um dia de trabalho. Nosso primeiro café foi na Casa do Artista, nas proximidades do Porto de Parintins, uma construção simples, com a aparência de um atêlie em que estavam em exposição muitas pinturas regionais e artigos artesanais. O detalhe importante, é que neste lugar, não se vendia refrigerante e ou bebidas alcólicas. E, como bons amazonenses, pedimos o famoso "X-caboquinho" com pão, tucumã e queijo coalho e um suco delicioso de goiaba e taperebá. Fantástico! Nada mais saudável que começar o dia de andarilho com este café da manhã. Aliás, nosso dia estava apenas começando!

Saudações Geográficas!

quinta-feira, 19 de julho de 2012

RUMO A PARINTINS, Diário de Bordo 2

Foto: Vista parcial de Itacoatiara. Autor: Geóg. M. Bechman, 2012

Por volta das 18h passamos por frente do Municipio de Itacoatiara, tão famoso quanto importante para a formação do estado do Amazonas. É a terra da "Pedra Pintada" nome alusivo á rochas com inscrições rupestres, daí o nome de Itacoatiara ou Itaquatiara. É a primeira vez que avisto a cidade de onde meus pais vieram e sobre isto não posso disfarçar a falta de curiosidade em visitar este lugar tão especial em também foram assentados alguns colonos judeus, além do imaginário construído sobre este lugar pelos meus pais, ainda muito presentes nas minhas recordações de infância. Só para se ter uma idéia, minha mãe, falava do evento sobre o afundamento de barcos num confronto entre amazonenses e paraenses (oriundos de Óbidos) por ocasião da Revolução Constitucionalista de 1932, reconhecida pelos geopolíticos brasileiros como a Batalha Naval mais importante da América Latina no século XX.

Foto: Margem esquerda do Rio Amazonas. Autor: Geóg. M. Bechman, 2012.

O enredo consiste no arregimento de revoltosos em Óbidos no Pará que apoiando São Paulo, depuseram o prefeito local e rumaram para depor o governo amazonense, que preparou a defesa da cidade e do estado com uma esquadra naval sob o comando do 27° BC (Batalhão de Caçadores) que funcionava nas dependências do atual prédio do Colégio Militar de Manaus (CMM). Neste episódio da história nacional e regional, ainda paira uma "nuvem" quanto as informações. Os amazonenses afundaram embarcações revoltosas após ameaçarem o bombardeio de Itacoatiara e alinharam-se a ordem política institucional vigente. Só um dos pequenos motivos pelos quais este lugar exerce um fascínio sobre mim, além dos contos de botos vermelhos, matinta-pêrera, curupira e outras lendas.

Foto: Geosistema amazônico. Rio Amazonas. Autor: Geóg. M. Bechman, 2012.

A impressionante paisagem amazônica em tons, matizes e feições, se revela ao longo do caminho pela estrada de rio, numa visão esplendorosa da criação divina. O magnífico manancial de água doce justaposto ao não menos superlativo estoque de carbono da floresta ombrófila, compoem um cenário dialético imperante no geossistema amazônico, alimentado pela grande concentração de rios aéreos num volume produzido pela espetacular evaporação dos cursos dágua e pela evapotranspiração da paisagem vegetal em gênesis perpétua.


Foto: Margem direita do Rio Amazonas. Autor: Geóg. M. Bechman, 2012.
A presença humana ao longo do caminho mostra apenas uma insgnificância existencial, mediante a grandiosidade da corbetura vegetal e o mundo das águas, imperam na construção de uma espacialidade do possível, mediada pelos "ditames" da natureza perfazen do uma atmosfera mitica e mística da existência. Aqui, as águas, os ventos, animais, vegetais, e histórias ancestrais ganham peso e são atores e atrizes nesta ópera da existência.

Foto: Rio Amazonas: O Desafio da Logística. Autor: Geóg. M. Bechman, 2012.

Não fosse apenas, o desafio amazônico, as distâncias dão o tempo e o ritmo dos ciclos nesta região. As distâncias incorporadas ao cotidiano dos caboclos nos lembra "os tempos lentos" de Milton Santos, e o desespero das empresas capitalistas para agilizarem o domínio sobre esta região tão especial. Neste caminho, balsas transitam diuturnamente, num exercício quase inglório diante da grandeza do rio Amazonas. Estamos chegando a Parintins!


Saudações Geográficas!

segunda-feira, 9 de julho de 2012

RUMO Á PARINTINS, DIÁRIO DE BORDO 1

Foto: Rio Amazonas.Autor: Geóg. M. Bechman, 2012

De  Manaus a Parintins, fizemos a opção de Barco, via Rio Amazonas. O Navio Parintins foi o escolhido por ser casco de ferro e pelo tamanho ser imponente o suficiente para oferecer uma certa segurança aos andarilhos. Tudo é muito novo, mas a tortura por busca de informações seguras sobre o trajeto e embarcações, foram diluídas ante a paisagem exuberante do Amazonas. O vento, as águas e a paisagem sob o sol amazonense, tornou nossa viagem um pouco mais prazerosa. Reconhecemos que descer o rio Amazonas é mesmo bem melhor que subí-lo.

 
Foto: Encontro das águas, do Rio Negro com o Rio Solimões
. Autor: Geóg. M. Bechman, 2012.


Só para se ter uma idéia, viajamos em 18 horas do Porto do Rodway em Manaus, tendo duas paradas, uma no Porto da Manaus Moderna para pegar passageiros que compraram seus bilhetes nas "agências" da Manaus Moderna e aí o embarque pareceu uma fuga cinematográfica de guerra para acessar o barco com destino á ilha tupinambarana. A  segunda parada do Navio Parintins foi no posto da Marinha para contar os passageiros, sendo aferidos 511 de uma capacidade de 615 para esta embarcação. Feita a vistoria, seguimos em direção a Parintins. Na passagem pelo encontro das águas dos rios Negro com o Solimões a beleza e gênese divina na formação do Rio Amazonas, o Negro com suas águas ácidas na cor de café com as águas barrentas do rio Solimões. A brisa constante já se torna um importante antídoto para os males causados pela vida urbana e para as doenças capitalitas como o stress, a fadiga e a ansiedade.


Foto: Redes atadas na embarcação. Autor: Geóg. M. Bechma, 2012.

Nosso passaporte, nas redes atadas no barco e trançadas a tantas outras pessoas com as suas, nos dão a clara idéia de que somos iguais, independente da formação profissional, da cultura e do gênero. Estávamos ali, num mesmo destino, embora diferentes em quase tudo. Mas, a grandeza do Amazonas simplesmente assusta, admira e encanta os andarilhos. O rio Amazonas está em vazante, mas ainda pode-se observar propriedades inundadas ao longo de suas margens, num ritual de séculos, misturando-se á própria mística da criação e recriação das paisagens amazônicas e amazonenses.

Cada residência na imensidão da paisagem natural, parece revelar a insgnificância da presença humana na vastidão da Amazônia. E, cada família cabocla transforma-se em heroína perante o gigantismo do imperador dos rios, o Amazonas. Neste cenário, o Amazonas ainda dá a tom da vida.


Foto: Crepúsculo no Rio Amazonas. Autor: Geóg. M. Bechman, 2012.

Chegado o entardecer, o espetáculo da criação se mostra fielmente a partir do maravilhoso crepúculo que une sol e água, num caminho refletido nas águas do rio Amazonas. Um dos prêmios no trajeto de barco. Os tons dourados do rio iluminados pelo esplendor dos raios solares contrasta com a paisagem em verdes e de diferentes nuançes e cores esbranquiçadas das esécies vegetais em processo de realimentação da vida no rio Amazonas, paisagens aliás que lembram o inverno das zonas temperadas em descompasso ao verde variado da floresta higrófila. Isto é apenas um relato ínfimo de uma viagem pelo gigante Amazonas. A noite chega, e os pontos iluminados tornam-se mais escassos e a companhia de uma lua crescente ilumina a imensidão de água no cumprimento do destino. Estamos no meio do Amazonas e os andarilhos recolhem-se ás redes para o repouso, embora para este andarilho, sono é uma coisa, a ser desfrutada apenas em seu retorno á Manaus.

Saudações Geográficas!